Sim no Brasil ainda tem trem de passageiros.
Depois de quase liquidar com o transporte ferroviário tendo como prioridade o modal rodoviário, o Brasil desperta para a necessidade de ampliar suas possibilidades com o conforto e a segurança dos trens de passageiros.
Foi preciso muita gente perder suas vidas ou ferir-se em acidentes terríveis nas nossas estradas pela falta de conhecimento, ignorância e má fé de uma elite dirigente comprometida com o capital da industria automobilística que tornou uma política pública que favoreceu o meio rodoviário.
Não fazia sentido instalar as montadoras de veículos sem ter-se estradas e consumidores garantidos.
Por muito tempo, ter carro não era para todos, somente a classe média alta podia dar-se ao luxo.
Na década de 70, com a crise do petróleo de 1973, no auge da ditadura militar, os V8 deixaram de roncar. A industria "brasileira" passou a produzir veículos mais acessíveis e ocorreu uma certa popularização do carro de família.
Quem não passou pelo aperto de um fusca indo pro final de semana à praia?
A tentativa de criar novas alternativas a crise do petróleo levou ao projeto do Pro-álcool com os motores a etanol que deu uma boa perspectiva para os carros nacionais. Enquanto isso a RFFSA agonizava. Muitas das estradas de ferro foram completamente sucateadas e a negligência surtiu seus efeitos. Por volta de 1986, aqui no Rio Grande do Sul o último trem de passageiros partiu de Porto Alegre a Santa Maria para nunca mais voltar. Lembro-me que fui convidado para esta viagem mas não tinha dinheiro e além disso era "de menor" para ir sozinho com meus amigos de escola.
Depois mais tarde andei pela primeira vez de trem no TRENSURB indo de Porto Alegre a Sapucaia do Sul no Zoológico.
Em 2008 quase andei na ferrovia da Graciosa que liga Curitiba a Antonina descendo e subindo a Serra da Graciosa. Um dos melhores passeios, porém o custo da passagem era fora dos meus padrões de consumo para a época.
Agora em 2015, fiz minha primeira viagem de trem indo de Vitória a Belo Horizonte.
Tal viagem é um dos trechos que ainda mistura turismo e trajeto de trabalho diário de muitas pessoas.
Operada a linha pela Companhia Vale do Rio Doce que foi uma das maiores empresas estatais do Brasil, ela hoje mantém essa linha em operação mais por "tradição" do que por rentabilidade, haja vista que a linha é na verdade compartilhada com trens de carga em alguns pontos e trechos. Ao viajar percebemos nossas riquezas indo embora sem qualquer beneficiamento.
O trajeto é belíssimo.
Leve uma boa máquina fotográfica e prepare-se para deleitar-se com a paisagem.
O interessante é perceber a mudança da vegetação e do relevo ao longo do caminho.
As cidades e a história aparecem ao longo da viagem.
A velocidade chega ao máximo de 60 km/h e em alguns momentos muito menos, em especial quando vem trem no sentido contrário a linha lateral.
O conforto dos vagões melhorou bastante. Até pouco tempo atrás, havia uma segregação social entre a "classe executiva" e a "classe popular" que nesta não havia ar condicionado.
A viagem poderia ser melhor se as pessoas falassem mais baixo, mas o interessante é também ouvir algumas dessas histórias.
Os contrastes da viagem manifestam-se com a flagrante situação de desmatamento e degradação ambiental em algumas localidades. Também é muito visível a pobreza e contraste urbanísticos.
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